Que Mundo Vivemos?!

 

 

 

            Será que o que se passa hoje à nossa volta pode ser considerado um mundo normal? Ou será que já estamos com uma casca tão endurecida que não somos mais capazes de nos sensibilizar com nada?

            Ontem me encontrava no ponto do ônibus e observava um homem todo maltrapilho que se aproximava das pessoas e dizia uma série de palavras que não fazia o menor sentido, e sempre com a mão estendida esperando receber algo. Dava para perceber que aquele ser humano já havia perdido todos os parâmetros de uma pessoa normal. Continuei observando, e aquele homem se aproximou de uma das cestas que a Comlurbe espalhou pela cidade para que as pessoas não joguem o lixo na rua, enfiou a sua mão ali e retirou o que restava de uma quentinha.Começou a comer como se fosse a última refeição de sua vida. Imagine a fome que estava. 

            Enquanto as pessoas não se conscientizarem de que a iniqüidade nos afasta do que poderia restar de amor em nossos corações, mais as palavras do evangelho se fortificarão em nossa sociedade. “E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de quase todos esfriará”.

            Em 1987, uma bomba do IRA explodiu em uma pequena cidade a oeste de Belfaste, bem no centro de um grupo de protestantes que estavam ali reunidos para prestar uma homenagem aos mortos no Dia dos Veteranos. Onze pessoas morreram e sessenta e três ficaram feridas. Na verdade, o que fez este ato de terrorismo destacar-se de outros, foi a reação de um dos feridos. Havia entre eles um metodista que havia emigrado para o norte para trabalhar como negociante de tecidos, chamava-se Gordon Wilson. A bomba sepultou Wilson e sua filha de vinte anos de idade sob quase dois metros de concreto e tijolos. “Papai, eu te amo muito”, foram as últimas palavras de Marie, agarrada à mão do pai enquanto aguardavam quem os salvasse. Ela teve sérios ferimentos na coluna e no cérebro, e morreu algumas horas depois no hospital.

            Gordon Wilson em seu leito de hospital disse: “Eu perdi minha filha, mas não tenho ressentimentos. Palavras amargas não vão trazer Marie Wilson de volta, à vida. Eu vou orar, hoje à noite e todas as noites, para que Deus lhes perdoe”. As últimas palavras de sua filha foram palavras de amor, e Gordon Wilson exteriorizou estas palavras com a sua declaração.  “O mundo chorou”, disse um repórter, “quando Wilson deu entrevista semelhante pela rádio BBC naquela semana”.

            Na continuidade, Gordon Wilson liderou uma cruzada pela reconciliação de protestantes e católicos. Ele escreveu um livro a respeito de sua filha, falou contra a violência e repetiu constantemente o refrão: “O amor é o fundamento”.  Ele se encontrou com o IRA e perdoou-os pessoalmente pelo que haviam feito e pediu-lhes que depusessem suas armas.  Finalmente a República Irlandesa transformou Wilson em um membro do Senado. Quando ele morreu em 1995, a República Irlandesa, a Irlanda do Norte e toda a Grã-Bretanha homenagearam este cidadão cristão comum que ganhou fama por seu espírito de  graça e de perdão fora do comum.

            Elizabeth O´Connor escreveu: “Abençoar as pessoas que oprimiram nosso espírito, que nos feriram emocionalmente ou de outras maneiras  nos aleijaram é a obra mais extraordinária que qualquer um de nós poderia fazer”.

            A revista Time, através de Lance Morrow escreveu: “Não haverá como evitar guerras, fome, miséria, discriminação racial, negação de direitos humanos e nem mesmo mísseis, se nossos corações não forem transformados”.

            De que nos adianta vivermos em uma sociedade com tanta tecnologia e poder, se por dentro as pessoas estão sem um sentido para viver? De que nos adianta tanto conforto se a poucos metros de nós, pessoas vivem sem a menor dignidade? De que nos adianta vivermos enclausurados dentro de nossas casas com medo de tudo e de todos? Isto ajudará de alguma forma para melhorarmos o mundo?  O que é o mundo? Será que estamos conscientes de que o mundo somos nós?

            À medida que melhorarmos como seres humanos, estaremos melhorando o mundo. Abraham Lincoln, logo depois da Guerra Civil, foi aconselhado por políticos e conselheiros que punisse o Sul severamente por todo o derramamento de sangue que provocou. “Eu não destruo meus inimigos quando os transformo em meus amigos“. Lincoln preferiu estabelecer um plano magnânimo de reconstrução.  

            Está mais do que na hora das pessoas conscientes darem um basta em tudo o que está por aí. Temos que tomar a nossa posição e não ficarmos apenas concordando com o que está se passando à nossa volta. Caso contrário, estaremos como os cincos macacos que um grupo de cientistas usou para uma experiência, colocando-os em uma jaula. No meio, uma escada e sobre ela um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para pegar as bananas, um jato de água fria era acionado em cima dos que estavam no chão.

            Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros o pegavam e enchiam de pancada. Com mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas. Então os cientistas substituíram um dos macacos por um novo. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não subia mais a escada.

            Um segundo macaco veterano foi substituído e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado com entusiasmo na surra ao novato.

            Um terceiro foi trocado e o mesmo ocorreu. Um quarto e afinal, o último dos veteranos, foi substituído. Os cientistas então ficaram com um grupo de cinco macacos que mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse pegar as bananas. Se fosse possível perguntar a algum deles porque eles batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: “Não sei, mas as coisas sempre foram assim por aqui”.

            Não, absolutamente NÃO. Nós não somos macacos. Temos que sair do nosso comodismo e participarmos mais deste mundo tão carente e sofrido. As pessoas não devem concordar porque outros dizem que tem que ser assim. Não, não tem que ser assim. Nós podemos mudar. Mas essa mudança deve começar em nós. Devemos sair deste nosso egoísmo brutal e desumano, trabalhando os nossos valores. Tendo consciência de que nós somos importante pelo que nós SOMOS e não pelo que nós TEMOS. 

No campo político, a nossa grande arma é o voto. Poderão algumas pessoas argumentar: “De que adianta, se todos os políticos são ladrões?”. Absolutamente não é verdade. Ainda existem muitas pessoas com honra e dignidade suficiente e que não são presas do sistema alienante que coloca as pessoas na frente de uma televisão, e ali manipulam as suas mentes com uma quantidade incrível de lixo.

Os satélites fizeram a Terra voltar-se para dentro, sobre si mesma. Os satélites transformaram a Terra no que Marshall McLuhan chamou uma aldeia global. Fomos transformados de uma sociedade industrial para uma sociedade de informação. Em uma sociedade industrial, o recurso estratégico é o capital. Mas na nova sociedade, o recurso estratégico é a informação, aliás, a mais importante. O acesso ao sistema econômico é muito mais fácil quando se conta com a informação como recurso estratégico.

Hoje a nova fonte de poder não é o dinheiro nas mãos de poucos, mas informação nas mãos de muitos. Numa sociedade de informação, pela primeira vez na civilização, o jogo é o de pessoas interagindo com outras pessoas.

Todavia, quanto mais tecnologia a nossa volta, mais precisamos do contato humano. Por isso, faz-se urgentemente necessário as pessoas acordarem que estamos no limiar de uma nova era. Temos que conciliar as nossas realidades física e espiritual, para que as pessoas não precisem se alimentar em latas de lixo.

“Às vezes, enxergar mais longe ajuda a colocar os homens em contato com suas realidades, pelo menos, quando se trata de construir sonhos de liberdade” J.W.Bautista Vidal.

 

 

 

 

Paulo Mascarenhas