A Lição da Argentina
Quando será que os dirigentes das nações que lutam para começar a sair da pobreza, vão realmente colocar os pés no chão e deixar de fazer uma administração irresponsável e iniciar um trabalho que seja verdadeiramente de acordo com as necessidades de todos? Parece que quando as pessoas são colocadas em posição de autoridade, ficam transtornadas pelo poder e não enxergam fatos óbvios a todas as pessoas que realmente participam da realidade do país.Isso sem falar nas pessoas que entram para a política com o objetivo determinado de apenas roubar e enriquecer com o dinheiro público, ou aquelas pessoas que apenas desejam o poder, para ter um grande domínio sobre os outros e de alguma forma usufruir as benesses que o poder proporciona.
O caos que se implantou na terra vizinha não se justifica, pois a Argentina possuía a maior renda per capita da América do Sul e um dos melhores índices de desenvolvimento humano. Cerca de um terço dos Argentinos vivem na capital e na província de Buenos Aires. A maioria do povo é de origem européia, sobretudo espanhola, italiana, alemã e eslava.
Grande produtor de carne e cereais e rica em minérios, a Argentina é a principal parceira do Brasil, no Mercosul.
Mas algo aconteceu que começou a tirar o país de sua rota de crescimento. Na verdade, nada acontece por acaso; todas as nações em algum momento de sua história tem que dar conta do seu passado e com a Argentina não foi diferente.
A Argentina, povoada por Espanhóis, era bastante eficiente e laboriosa. Pelos idos de 1900, este país fazia parte dos dez países mais ricos do mundo. Albert Einstein, em 1925, disse: “Como é que um país tão desorganizado pode progredir?” Na mesma proporção que sua riqueza crescia, havia uma grave e intensa crise administrativa e política.
Em 1911, um ilustre senhor, chamado G.Bevione escreveu um livro que foi publicado em Turim, onde assinalava que na Argentina: “. . . se dilapidava o dinheiro público e que havia uma corrupção política arraigada e que a justiça não funcionava.”
O jornalista e político Georges Clemenceau falou:”A Argentina cresce graças ao que os seus políticos e governantes deixam de roubar enquanto dormem”.
Vemos assim que o desgoverno vem de muitos anos atrás.
Por exemplo, o Brasil tinha uma divida pública de 800 bilhões de reais, que se somados à dívida externa ultrapassava o próprio valor do PIB de 2001.
Na Argentina, a dívida, há muito tempo atrás, já ultrapassou o seu PIB. Em 2000 a Argentina até que ia muito bem, mas com uma dívida interna a cada dia se agigantando mais e a roubalheira aumentando na mesma proporção, os bancos privados se afastaram; depois, os organismos internacionais, como o Banco Mundial e o FMI, também viraram as costas.Foi o suficiente para as fontes de dólar desaparecerem e a Argentina começar a naufragar. E o que presenciamos foi que em menos de quatro meses aquele país estava quebrado. E como a dívida pública da Argentina estava quase toda dolarizada ( no Brasil não) implantou-se o caos naquele país.
A Argentina não tem parques industriais, e lhe falta um grande mercado consumidor interno. Todavia ela tem algo em comum com o Brasil, ou seja, possui uma péssima distribuição de renda e índices indecentes de pobreza.
O incrível é que parece que o sofrimento pelo qual aquele povo passou não foi suficiente para aprenderem, pois o Menem continuou com muito prestigio. Não dá para entender que uma pessoa, que inclusive foi preso, aliás, por corrupção, foi tão festejado e com prestigio para tornar a ocupar a presidência.
Veja a que ponto um país pode chegar: a falta de pessoas com capacidade e honradez suficientes para pleitear um cargo público, possibilita os corruptos crescerem em prestígio e poder. Evidente, na Argentina há milhares de pessoas muito honradas e capazes, mas sem vocação para o serviço público.
A lição principal da Argentina foi de que, por estas bandas, ainda não temos verdadeiramente solidificada uma estrutura preparada para uma grande queda em sua economia, pois o tempo em que a Argentina naufragou foi muito rápido.
Evidente que o Brasil é muito mais poderoso economicamente, mas com certeza ainda não suficientemente forte para suportar um abalo em sua estrutura econômica.
Que o novo governo possa administrar bem e o nosso país e possamos a cada dia, nos posicionar melhor em todos os setores que possam desestabilizar o país.
Paulo Mascarenhas