A expressão Kamikaze,
significa “vento divino”, havia sido usado para designar um tufão que, em
1281, dispersou os navios e impediu a invasão mongol do Japão.Naturalmente, na
ótica japonesa, este “vento divino” poderia novamente alterar o curso da
história em 1944. Mas não foi o que aconteceu, eles não conseguiram impedir a
vitória americana.
À 10h 50m do dia 25 de outubro de 1944, aconteceu o primeiro ataque
kamizake- três horas antes- ainda não tinha sido totalmente entendido, cinco
ZERO atacaram a 3º Frota no Golfo de Leyte. Dois arremeteram-se contra o
navio-capitania, o porta-aviões Fanshaw
Bay, mas foram derrubados. Um errou por centímetros o porta-aviões Kitkun Bay
e explodiu na água. Dois mergulharam no White Plains,mas as balas de 40 milímetros
do fogo antiaéreo atingiram um, que caiu e explodiu, matando 11 marinheiros, e
desviaram o outro, mas o piloto manobrou com sucesso, mudou o alvo e foi
espatifar-se em cheio, na ponte de comando do Saint Lo. A explosão e o incêndio
acionaram torpedos e bombas estocadas no hangar. Sete explosões sucessivas
sacudiram o porta-aviões. Trinta minutos depois, às 11h 25 m o Saint Lo
afundou. Foi o primeiro navio afundado pelos kamizakes.
Os 2198 pilotos que jogaram seu avião contra o inimigo eram todos voluntários,
e a lista de candidatos a kamikaze foi sempre maior do que o numero de aviões
disponíveis. O suicídio voluntário, na visão deles não era um ato de
desespero, mas de lucidez e abnegação rigorosas. Esta postura dava significação
a toda a vida. Eles abdicavam da vida, mas entendiam que estavam defendendo as
suas famílias e a nação do inimigo que avançava.
Para nós ocidentais entendermos a visão oriental da morte é muito difícil,
pois eles são educados desde pequenos sobre os valores que levarão pela vida
afora. Haja vista atitudes recentes inclusive de políticos que foram pegos em
posturas que denigrem a honra da pessoa, e por esse motivo se suicidaram. Isto
recentemente, século 21, imagine naquela época!
Na
ilha Leyt, morreram 4.000 americanos e 65.000 japoneses. A conquista das
Filipinas custou 10.440 vidas americanas e 256.000 japonesas. O massacre
seguinte na ilha de Iwo Jima, em fevereiro de 1945, custou a morte de 6.812
americanos e 21.000 japoneses, a guarnição inteira aniquilada. Toda esta
carnificina evidentemente fez com que o comando americano imaginasse: se naquela
ilhota a resistência havia sido naquele nível, o que não aconteceria quando
eles chegassem às ilhas do Japão?
A lógica da resistência até a morte acabaria por justificar uma
atitude que poderia ser a bomba atômica, para poupar a morte estimada de cerca
de 2 milhões em uma guerra de ocupação.
Em abril de 1945, os americanos reuniram quatro divisões do exército e
três de fuzileiros, 280.000 homens, para invadir Okinawa. O Japão mandava uma
advertência mórbida: se sacrificara 185.000 pessoas por Okinawa não haveria
limite de sacrifício na defesa do solo pátrio.
Vemos
assim que cada dia ficava mais difícil aquela guerra. É possível que o
comando americano, ao fazer a conta dos 2 milhões que poderiam morrer em uma
guerra de ocupação, acharam que isso justificava a bomba atômica. Todavia, não
acredito que naquela época eles tivessem a noção exata do poder de destruição
da bomba, nem dos riscos futuros com os sobreviventes.
Em
nosso dias, podemos fazer uma projeção do que seja o ocidente futucar os povos
que, embora com outra formação religiosa, também não possuem o medo da
morte: os homens-bombas de hoje, que são os kamizakes de 1944. Entretanto, no
momento que aquela gente pretender resolver as suas diferenças com o ocidente
com a bomba atômica, correremos todos nós, altíssimo risco da sobrevivência
do que chamamos mundo civilizado
O colapso da União Soviética, tornou vulnerável os seus arsenais e
recursos para a fabricação da bomba atômica. Existe grande possibilidade dos
terroristas alcançarem elementos na USRR para consolidar um artefato nuclear.
Em outubro de 1996, o chefe da mais importante instalação de projetos
de armas nucleares da Rússia, Vladimir Nechai, suicidou-se por causa da
vergonha de não poder pagar seus cientistas já havia alguns meses. Em uma
coluna do New York Times, de 15 de
novembro de 1996, outro oficial russo, que fôra ao funeral de Nechai, observou
o estado dos cientistas nucleares que compareceram: “Ali estava a nata da ciência
russa. Ali estavam físicos de envergadura mundial, vestindo paletós coçados e
camisas desbotadas com os punhos puídos”. Esse oficial, Grigory Yavlinsky,
concluía: “Na Rússia ninguém é
capaz de garantir a segurança dos programas termonucleares.”
O comentário de que “até as batatas são mais bem guardadas”
do que as armas nucleares, após o colapso
da União Soviética, foi feito por Mikhail Kulik, oficial que investigou o
roubo de 13,5 quilos de urânio enriquecido de uma base de submarinos nucleares
perto de Murmansk. Foi citado em Scientific American (janeiro de 1996, p.42), no
artigo “A real ameaça do contrabando nuclear”, assinado por Phil Williams e
Paul Woessner.
Está, assim, sendo iniciado um período muito perigoso, que sempre foi
temido, ou seja, a disseminação de um mercado paralelo, clandestino, de
tecnologia e de matérias-primas de armas nucleares. Um especialista em
terrorismo nuclear do Pentágono disse que, se os autores do atentado
de Oklahoma tivessem uma
quantidade de plutônio que pudesse ser colocada em uma latinha de Coca-Cola, e
tivessem incluído essa latinha na tosca bomba feita de fertilizantes e óleo
combustível que colocaram naquele caminhão, teriam tornado a cidade de
Oklahoma inabitável por um século, pelo menos.
Que Deus nos proteja da
insanidade de tantas pessoas desequilibradas que possuem em seu poder o destino
de todos nós.
Paulo Mascarenhas