E Se a Fatalidade nos Alcançar?

 

 

         Muitas vezes nos vemos perguntando: O que será que Deus tem reservado para mim? E se em nossas vidas a fatalidade nos alcançar, mais uma vez perguntamos: Senhor, é isso que mereço por ser fiel ao evangelho?

 E mais uma vez aguardamos as respostas e quando elas não se fazem presente na maneira que desejamos, pronto: é o suficiente para que a pessoa se sinta desiludida com Deus e com tudo que diga respeito à Sua palavra.

 O que podemos esperar de Deus?  Não é uma resposta fácil. Muitos teólogos, filósofos e estudiosos do assunto já se debruçaram sobre este tema.

            Esperamos que Deus haja de acordo com nossos interesses e vontades e, com certeza, na maioria das vezes o que as pessoas pedem em suas orações são desejos corretos, e  imaginam que, para Deus isso não será nada. Acontece que Deus não age na dimensão que desejamos. Fazemos perguntas aos nossos orientadores espirituais tais como: Por que aconteceu comigo? Por que Deus não está atendendo às minhas orações? Será que Deus é injusto? Será que Ele não deseja a minha felicidade? Enfim, são muitas as perguntas que nos vêm ao coração nos momentos em que a fatalidade nos visita.

            Algumas pessoas até dizem: os ateus são mais felizes, pois não esperam nada de Deus!  Será que amamos a Deus por Ele ser Deus, ou porque achamos que assim todas as coisas serão facilitadas? Em momento algum na Bíblia vemos os maiores profetas de Deus tendo uma vida cheia de facilidades,conforto, segurança e uma vida mansa. Todavia, foram pessoas que tinham uma grande intimidade com Deus e, por isso, desfrutavam daquela paz que excede a todo o entendimento. Mesmo assim, em algum momento de suas vidas, com certeza também devem ter tido suas interrogações.

            As pessoas que se dedicam a Deus, instintivamente esperam de Deus sempre o melhor, ou seja, esperam algo em troca.

            No Antigo Testamento vemos como Deus se manifestava para aquele povo: apesar de receber todas as bênções e milagres abundantes de Deus jamais conseguiu cumprir as ordenanças de Deus. “Se andardes nos meus estatutos, guardardes os meus mandamentos e os cumprirdes, então, eu vos darei as vossas chuvas... estabelecerei paz na terra... perseguirei os vossos inimigos... e por aí vai uma série de bênçãos. Mas, se me  não ouvirdes e não cumprirdes todos estes mandamentos... então  vos farei isto: porei sobre vós terror, a tísica e a febre ardente... voltar-me-ei contra vós outros, e sereis feridos diante de vossos inimigos...”  O que a Bíblia nos conta, é que aquele povo não foi capaz de cumprir esta aliança com Deus. E em um período de cinqüenta anos, aquele povo estava acabado e o caos havia se integrado em suas vidas.

            Vemos assim, que, com toda a justiça e as benções de Deus, não foi possível a Israel manter a aliança com Ele. Qual a lição que podemos tirar para nossas vidas? A lição principal é a de que não temos capacidade de estabelecer uma aliança com Deus. E por isso Deus fez uma nova aliança, só que agora esta aliança é baseada no perdão e na graça.

            Tudo que temos e recebemos é simplesmente pela graça de Deus, ou seja, um favor imerecido. Algumas pessoas falam que se tivessem um sinal de Deus seria diferente. Mais uma vez vemos o quanto o ser humano é incoerente. Está mais do que provado de que milagre algum modificará a realidade do que somos. O povo de Israel é um exemplo disso. Jamais, em toda a história da humanidade, Deus realizou tantos milagres como o fez com aquele povo. A saída do povo do Egito e os quarenta anos que passaram no deserto  mostraram milagres verdadeiramente grandiosos. E eu pergunto: Adiantou alguma coisa? Não foi necessário aquela geração toda morrer? Dos dois milhões e meio de pessoas que saíram do Egito, quantos entraram na terra prometida? Apenas dois.

            Será que Jó não tinha bastante motivo para estar triste com Deus? E José? E Daniel? E Estêvão? E Pedro? E Paulo? A lista seria muito grande, pois foram pessoas que pela lógica humana, jamais deveriam passar pelas desgraças que passaram. E nem por isso deixaram de amar a Deus. Será que estamos prontos para amar a Deus pelo que Ele é, ou estamos interessados apenas nas Suas bênçãos e não queremos nada com o Deus das bênçãos.

            Por outro lado, vemos uma pessoa que tinha uma grandiosa intimidade com Deus e no momento em que chegou ao ápice da grandeza material  esqueceu-se de Deus. Falo de Salomão, aquele que escreveu 1.005 canções e 3.000 provérbios. Construiu um maravilhoso templo usando cerca de 200 mil homens,  que se tornou uma das maravilhas do mundo. E isso tudo pensando em Deus. Em uma geração Salomão transformou Israel em uma potência política independente. Mas aconteceu que o grande poder material e sucesso ocasionou o desinteresse por Deus. Salomão caminhou para a promiscuidade, tinha setecentas esposas e trezentas concubinas. E para agradar àquelas mulheres ímpias, introduziu, na cidade santa de Deus o culto a ídolos.

            E assim, Israel começou a caminhar para a ruína, e logo após a morte de Salomão,  dividiu-se em dois.

            Salomão é um exemplo para nós, conseguiu tudo o que queria, principalmente poder político, material e social. E na continuidade foi cada vez se afastando mais de Deus. Muitas vezes acreditamos que necessitamos ardentemente de bastante poder e dinheiro. Lutamos desesperadamente por tais bens, mas a historia tem nos ensinado de que todas as pessoas que colocaram os seus corações apenas nestes objetivos foram infelizes e terminaram seus dias longe de Deus.

            Outro dia, estava lendo a história de um bem sucedido médico aqui do Rio, que internou o seu recém-nascido filho em uma clinica poderosa e cheia de recursos e essa criança com dez dias morreu de infecção generalizada. O pai inconformado, exigiu um exame de necropsia. O resultado foi morte causada por infarto agudo do miocárdio, com ruptura de músculo papilar. Por outro lado, a criança não tinha qualquer anomalia cardíaca congênita que justificasse um infarto. Traduzindo: a morte fora em decorrência de algum fator que gerara um trombo ou que aumentara a coagulabilidade do sangue, o que resultara no entupimento de uma artéria coronária.

            Isso significava que a conduta médica adotada falhara gravemente: este médico (pai da criança) estava à frente de um caso de iatrogenia (Iatrogenisa- Palavra composta pelo radical grego iatrós, que significa “médico” , e genia, que vem do latimgenus, “gerar”.) ou em outras palavras, de uma situação na qual o tratamento médico é a causa da doença.

            O que não se passa na cabeça de um pai e de uma mãe em uma circunstância desta? Por que Deus permitiu isto acontecer?

            Nos EUA, um famoso evangelista, na televisão, demonstrando muita fé e confiança, inclinou-se em direção à câmera, o rosto enrugado se abrindo em um grande sorriso, apontava o dedo para um milhão de telespectadores:

_ Algo bom vai acontecer com você nesta semana!- disse, esticando ao máximo a palavra “bom”. Era como um bom vendedor, profundamente convincente. Alguns dias depois, contudo, foi noticiado  que seu filho havia se suicidado.

            Na verdade o que muitas pessoas fazem é colocar Deus no centro de suas próprias vontades, e dizem para as outras pessoas o que Deus pode fazer e o que ele não pode. Quando o que deveríamos fazer era deixar bem claro que nós não temos capacidade, aliás, nenhum ser humano tem capacidade para entender  Deus.

(Isaias, 55.8) nos ensina que os caminhos de Deus não são os nossos caminhos e os seus pensamentos não são os nossos pensamentos.

            Muitas pessoas são induzidas por pregações que dizem que basta orar com fé que Deus irá fazer o milagre. Isto não está certo, pois este tipo de ensinamento poderá criar sofrimento e desilusão entre mais pessoas do que possamos imaginar. Evidentemente,  creio firmemente que Deus tem o poder para curar, mas também tenho toda a convicção de que Deus irá fazer exatamente o que Ele achar o melhor. Nós não podemos manipular o Todo-poderoso.

            Muitos profetas de Deus se indagaram porque os ímpios prosperavam, e Habacuque  chegou a perguntar para Deus:” Por que me mostras a iniqüidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita. Por esta causa, a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta, porque o perverso cerca o justo, a justiça é torcida.”

            João Batista, primo de Jesus não teria motivos para se decepcionar com Deus? Aquele que Jesus classificou desta maneira: “Em verdade vos digo:dentre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista...”  Todavia, a morte de João Batista foi violentíssima. Mais uma vez pela lógica humana, isto não faz sentido. Mas Deus não age por lógica simplesmente porque a lógica é humana e Deus é Deus, não é ser humano.

            Ninguém está isento da tragédia, o próprio Jesus passou por injustiças e decepções. O Senhor Jesus não esteve isento da desgraça e da decepção, passou por todas as tragédias que nós conhecemos muito bem. Mas nada impediu de que Ele vencesse as trevas.

            Paulo nos transmite a essência do que seja a verdadeira realidade da vida: “Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque  a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda  comparação, não atentando nós nas cousas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas”.                                                                                     

     

 

 

 

Paulo Mascarenhas